domingo, 17 de outubro de 2010

Minha justificativa racional para o meu voto

Há alguns dias venho recebendo pedidos de justificativa “racional” para o meu voto, em contraposição às postagens de conteúdo público e coletivo que venho recebendo e publicando. Em tempo, só publico aquilo que recebo de colegas que conheço e confio. Infelizmente não recebo nada de qualidade de quem tem posição contrária à minha, só algo como “queime uma bruxa no dia 31”, ou “vamos ver o currículo acadêmico dos candidatos”, como, aliás, se o Serra se orgulhasse de algo no currículo acadêmico dele, pois se o fizesse, certamente seria um candidato completamente diferente do que é hoje. Mas enfim, esta parte a maioria das pessoas desconhece.

Em primeiro lugar, preciso fazer um retrospecto sobre o que me levou a estudar economia. Ou melhor, depois que resolvi, meio que ao acaso, fazer economia, o que de melhor esta profissão poderia me dar (exceto a questão pragmática, do ganha pão). Pois bem, nunca conseguiram me convencer de que o melhor que o economista pode fazer não seja pensar no desenvolvimento econômico! Claro que eu sei que este é um processo complexo, e que deriva de muitas partes, passando pela eficiência dos diversos mercados. Entretanto, acredito piamente que um economista pleno é aquele que não perde de vista que o objetivo de sua profissão deva ser a melhoria das condições de vida da população. No melhor sentido positivista do conceito (ver o post de 2008 “Robin Hood e os Positivistas”). Sobretudo em um país tão desigual como o Brasil, onde há muito trabalho a ser feito neste sentido, acredito que há muito mérito no que eu entendo como propósito da profissão (ver o post “Jornalista enquanto bode espiatório de um problema social crônico - A ALIENAÇÃO”)

Pontuando o que eu acredito que deva ser o objetivo do trabalho do economista e o que eu entendo por desenvolvimento econômico, vamos às eleições.

Neste momento, eu não posso deixar de mencionar o blog da minha ex-professora de econometria e profunda entendedora dos modelos macroeconômicos na esfera de regimes monetários e fiscais, entre outras coisas. Clique aqui para ler o post.

Ela sintetizou o que eu sabia de forma tácita o que me movia em relação à eleições e a política econômica em geral. Meu voto é a favor da redução das desigualdades sociais e ponto final. Aquele que expressar melhor compromisso em relação a este quesito tem o meu voto incondicional.

Ainda bem que aprendemos na faculdade de economia o conceito de second best. É claro que para conseguir um objetivo, as vezes, precisamos fazer algumas concessões. O ideal seria que não precisássemos, mas as vezes precisamos. Se o governo Lula foi mais ortodoxo do que seria esperado, em matéria de política fiscal e monetária, por outro lado ele foi bem sucedido no que tange à melhoria das condições de vida da população, que sempre pareceu ser seu maior desejo. Com isso, pessoalmente, o presidente Lula desagradou a um segmento grande de pessoas que o seguiam. Vide a entrevista do professor Chico de Oliveira na Folha de hoje!

Aprendi nas matérias de desenvolvimento econômico que existem duas esferas de desenvolvimento. O interno e o externo, que tange as relações de um país com o mundo. Considerando a dinâmica das interrelações entre as nações no período mais recente (últimos 30 anos aproximadamente), no período chamado de globalização, o padrão de inserção internacional teve papel fundamental no condicionamento das políticas internas.

Na minha percepção, os últimos anos marcam o rompimento do condicionamento estrito destas políticas, seja por um fortalecimento estritamente econômico, passando pelas variáveis relacionadas à vulnerabilidade externa, e por um fortalecimento político-diplomático. De modo que conseguimos, às custas de um intensivo projeto político de inserção internacional, auxiliado sem dúvida por uma conjuntura favorável, ganhar “graus de liberdade” para a colocação de certas prioridades nacionais acima de interesses internacionais. Quem considera esta minha opinião “conspiratória”, simplesmente não entende NADA de economia ou de política.

Esta mudança de patamar do Brasil em relação ao exterior requereu grande vontade política. Temo que tenhamos um retrocesso significativo neste aspecto caso o tucanato venha a ganhar a eleição. Por que eu digo isso? Porque já tivemos 8 anos de experiência neste sentido. Alias, ouso dizer que isso é o que uma das coisas que eles sabem fazer de melhor.

O governo Lula, na minha opinião, inaugurou um novo paradigma de desenvolvimento, não só a nível interno, mas a nível internacional, priorizando também a cooperação entre países em desenvolvimento, sobretudo os “em desenvolvimento mais desenvolvidos” em direção aos menos desenvolvidos. Fui privilegiada por poder participar de discussões, a nível governamental, sobre cooperação.

O fortalecimento do setor produtivo privado, via políticas ostensivas de crédito, favoreceram a geração de empregos, grande parte formais. Agora eu gostaria de ouvir os críticos do problema previdenciário (vejam bem, não digo que a previdência não seja um problema a longo prazo, minha crítica vai àqueles que se limitam a apontar o foco errado do problema), dizendo que o que limita a criação de empregos formais são os encargos trabalhistas. O que limita o crescimento dos empregos formais é a falta de crescimento do produto, por favor!

Deixo de lado propositalmente questões como o pré-sal. Esta questão, por si só, é auto-explicativa.

Penso que consegui, não suscintamente como havia prevido, mas consegui justificar meu voto em termos dos meus motivos ideológicos (economistas deveriam ter como prioridade o desenvolvimento econômico) e técnicos (continuidade da política voltada ao atendimento das necessidades básicas da nação, continuidade da política externa “independente”, calcada na redução da vulnerabilidade externa, continuidade da política de crédito público, voltada ao fortalecimento do setor privado, com geração de empregos, continuidade da cooperação a nível internacional com países menos desenvolvidos). Quanto às políticas macroeconômicas básicas não há o que falar, porque acredito que uma mudança radical na tríade metas de superávit fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante não acredito que haverá alternativa entre qualquer um dos 2 candidatos.

Gostaria muito de ver uma análise com um grau semelhante de profundidade, em termos de argumentação, dos meus colegas que tem voto contrário ao meu. Até agora só vi justificativas medíocres e totalmente irrelevantes. Poxa, eu digo que não, mas eu gosto de debater. Mas com gente que seja melhor do que eu! rs....

PS: Eu acho que temos um potencial de melhorar a austeridade da política fiscal. Cortar a bolsa de mestrado e doutorado de gente que claramente não está aprendendo nada nas instituições de ensino públicas. Nem o suficiente para ter uma discussão num patamar aceitável. Lamentável.

4 comentários:

Rafael Moraes disse...

Chutando a Escada, lembra.
Estes jovenzinhos liberais que financiam seus estudos e suas baladinhas com a bolsa Capes e CNPQ não querem que os nordestinos de longe da praia tenham o mesmo direito. Por isso, para eles faz pouca diferença um governo que em oito anos não fez sequer uma Universidades Federal e outro que fez 14, a maior parte delas no interior pobre do país.
Excelente post Sá.

silverinha disse...

"Há alguns dias venho recebendo pedidos de justificativa “racional” para o meu voto" Eu diria que são exigencias!! haha ops

"Pois bem, nunca conseguiram me convencer de que o melhor que o economista pode fazer não seja pensar no desenvolvimento econômico!" Vou botar isso no meu FB!! ahaha que romantico!! mas concordo em genero numero e grau!!

Quanto a análise da economia, internamente, eu concordo plenamente. Em relação ao política externa acho coerente o apoio as relaçãos "sul-sul" e a crescente importancia do g-20 em detrimento do g-8. Apesar de crescente, temos que observar que a estrutura de forças internacionais está majoritariamente a mesma coisa (em relação as potencias) mas com uma presença (que não existia) dos países em desenvolvimento.

Enfim, para completar acho muito justo sua proposta. Que os mestrandos e doutorandos sem noção percam suas bolsas e que aumentem as bolsas dos estudantes realmente preocupados em fazer bom uso do que aprenderam na academia!! =D ops, a proposito, nós!! =P

E viva o bom debate !!!

Anônimo disse...

Acredito q achei o espaço e procurava pra debater, sobre questões, q desde q sou a única responsável pela minha sobrevivencia, sinto a necessidade de discutir.

Não sou economista, acredito assim, fazer com q abra as vertentes pra q esse espaço se torne cada vez mais interessante e democrático.

Oque trago, não tem a ver com voto ou não no PT, mas quando existirão propostas interessantes para quem como eu se considera classe média `raladora".

A questão é, onde a classe média se enquadra no quesito igualdade, ou diminuição das diferenças economicas, exemplo prático...
Eu sempre estudei em escola particular, quando chegou a época da faculdade, não tive condições de me manter na mesma por questões financeiras,para o segundo ano dado q todas as poucas bolsas oferecidas, eram pra alunos q fizeram escola publica, ou seja, por nao ter sido menos favorecida economicamente até a época da Faculdade, ao me tornar uma menos favorecida, na época da faculdade, nao tinha como cursar, o contrário tb, por nao ser da classe mais favorecida tb nao tinha como me manter na Faculdade, dilema q se iniciou em 2001 e vivo até hj 2010.

Por exemplo, vamos criar entao pra classe média, uma bolsa gasolina, Bolsa troca de óleo,isso, se falando só em carro, trata-se pra quem tem carro, q muitas vezes compra em 60 prestaçoes, ou seja, não é uma pessoa q nao precise do governo, na verdade como eu,é uma pessoa super esforçada pra completar ensino superior, pra ter melhor meio de transporte e render mais no trabalho e o retorno q tenho é pagar impostos.

Quero deixar claro, que sim concordo nas necessidades, muito bem colocadas pela Samira, para o desenvolvimento do Pais, abro aqui neste espaço, na verdade um debate a parte, de querer compreender Qual é a função da classe média dentro deste tema?

Parabéns pela iniciativa Sassa!!!

Alfredo Cassab disse...

Complementando o que foi dito pela Tainah, eu como um cidadão de classe média(que também ralo para bancar a faculdade), etc.
O governo deveria pensar no "pós" programas sociais, pq sabe-se que uma grande fatia da população que estava nas classes E e D estão migrando para a classe C, e como estamos vendo nas propostas dos candidatos, muito se fala da ampliação dos programas sociais e pouco de programas que beneficiem a nova classe média brasileira. É inadmissível para mim esta passar como mera coadjuvante nos olhos dos governantes, pois certamente é a que tem maior potencial de crescimento, mas como no Brasil a desigualdade ainda predomina, creio que a "menina dos olhos" do governo será nos próximos anos ainda combater a desigualdade social, torço para que em muito em breve essa discussão mude o foco(daqui 4 anos quem sabe, nas próximas eleições presidenciais), quem sabe até lá a classe média cresça ainda mais e o governo não mais possa ignorá-la.


Parabéns pelo Blog, professora. Muito bom!